sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Refração clínica e instrumentação oftálmica
Nota histórica 



Até meados do século dezenove os óculos se apresentavam geralmente com as duas lentes na mesma graduação. O freguês os comprava depois de experimentá-los por tentativas em tendas e lojas de artigos ópticos ou no sortimento de vendedores ambulantes. 

A situação atual resulta do estudo e dedicação de médicos oftalmologistas, a quem se devem os aparelhos e métodos de exame, o entendimento da relação entre doenças sistêmicas, ametropias e presbiopia, bem como o conhecimento da forma das lentes e sua colocação na armação dos óculos.  

Autores pioneiros em aparelhos e métodos de exame 
1759  Porterfield, médico oftalmologista escocês, é o primeiro a descrever um dispositivo, o qual denomina optômetro, para determinação da refração do olho humano. Daí derivam o conceito e o termo optometria.


1801 Young, médico e polímata inglês, baseia-se nos estudos de Porterfield e constrói um optômetro prático com o qual realiza diversas optometrias. 


Encontra-se uma figura do optômetro de Young em: 

http://www.antiquespectacles.com/people/C/4.jpg


1810 Wollaston, médico pesquisador inglês, determina experimentalmente as curvaturas e faz construir as primeiras lentes oftálmicas em forma de menisco, de desempenho óptico superior às bicôncavas e biconvexas usadas até então.






1843  
Kuechler, médico oftalmologista alemão, publica textos para avaliar a acuidade visual de perto, impressos em fontes do alfabeto gótico alemão.


1851 Helmholtz, médico alemão, inventa o oftalmoscópio direto para observação incruenta do interior do olho vivo.  Pouco depois acrescenta-lhe um disco com lentes graduadas que permitem, pela primeira vez, avaliar objetivamente a refração do olho. Inicia-se assim a optometria objetiva.



1852   Ruete , médico oftalmologista alemão, cria o oftalmoscópio indireto, do qual deriva o atual procedimento da oftalmoscopia em lâmpada de fenda.




1854 Jäger, médico oftalmologista vienense, publica textos em vários idiomas para avaliar a acuidade visual de perto, impressos em fontes tipográficas de alfabeto latino. A escala de Jäger adaptada às fontes atuais continua em uso até hoje. 


 
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1862 Snellen, médico oftalmologista holandês, publica seus optotipos para determinação da acuidade visual de longe, do qual derivam todos aqueles em uso atual.  A Snellen se deve também o facômetro, precursor dos atuais lensômetro, para medir a potência (graduação) das lentes de óculos.


1864 Donders, médico oftalmologista holandês, publica Anomalias da acomodação e da refração, estabelecendo as bases do tratamento dos defeitos da refração pela prescrição de óculos de grau. Os métodos de  Donders continuam sendo utilizados em nossos dias.



1872 Monoyer, médico oftalmologista francês, introduz a dioptria como medida da potência das lentes.
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1873 Cuignet, médico oftalmologista francês, cria a esquiascopia (ou retinoscopia) para a determinação  objetiva da refração. Esta é aperfeiçoada pouco depois por Parent, também médico oftalmologista francês.


1876 Badal, médico oftalmologista francês, constrói um aparelho (o qual chama optômetro) para determinação da refração objetiva.


1880 Javal, médico oftalmologista francês, constrói um ceratômetro (o qual chama oftalmômetro) para determinação da curvaturas da córnea e do astigmatismo corneano. Constrói também um disco (o qual chama optômetro) provido de lentes esféricas e cilíndricas para a prática da refração subjetiva. É o precursor do refrator de Green, médico oftalmologista norte-americano, que o aperfeiçoa na terceira década do século 20 fazendo-o construir por Bausch & Lomb nos Estados Unidos. 


1880 Plácido, médico oftalmologista português, constrói um disco para observação da topografia da córnea. Do disco de Plácido derivam os atuais topógrafos corneanos.

1887 Jackson, médico oftalmologista norte-americano, introduz o cilindro cruzado para determinação subjetiva da potência cilíndrica.  Em 1907 amplia seu  uso para determinação do eixo do astigmatismo.




1888 Fick, médico oftalmologista alemão, publica os resultados obtidos no ceratocone, astigmatismo irregular, afacia e miopia, utilizando lentes de contato por ele concebidas e construídas por Zeiss.




1888 Müller, médico oftalmologista alemão, calcula e desenha lentes de contato, fazendo-as as construir por Himmler. Usa-as nos próprios olhos (-14,00) e publica os resultados em sua tese de doutorado.




1900 Wolff, médico oftalmologista alemão, constrói o retinoscópio (ou esquiascópio) elétrico de faixa, precursor dos atuais.



1907 Tscherning, médico oftalmologista dinamarquês, calcula as curvaturas de aberração mínima para lentes oftálmicas.





1911 Gullstrand, médico oftalmologista sueco, cria a lâmpada de fenda e a faz construir por Zeiss. Em 1923 calcula as lentes asféricas e as faz construir também por Zeiss.




1925 Thorner, médico oftalmologista alemão, cria e faz construir por Busch um refratômetro para determinação objetiva da refração.





1954 Goldmann, médico oftalmologista nascido no antigo Império Austro-Húngaro e radicado na Suíça, concebe e faz construir o tonômetro de aplanação, baseado no tonômetro inventado em 1892 por Maklakoff,  médico oftalmologista russo.



1970 Hockwin, médico oftalmologista alemão, aplica ao olho o procedimento fotográfico de Scheimpflug, levando à criação do dispositivo Pentacam.



No Brasil 
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1863 Carlos Pedraglia, médico oftalmologista alemão radicado no Brasil, obtém seu doutorado no Rio de Janeiro com a tese: Dissertação sobre os phenomenos da refracção e accomodação do olho humano.

1873 Hilario de Gouvea, médico oftalmologista brasileiro, inaugura no Rio de Janeiro o Instituto Ophthalmologico Brazileiro onde receita óculos pelos métodos de Donders.

1889 J S M Sodré, médico oftalmologista brasileiro, obtém seu doutorado no Rio de Janeiro com a tese: Astigmatismo.

1894 R Jatahy, médico oftalmologista brasileiro, se apresenta à cadeira de Clínica Oftalmológica da Faculdade de Medicina e Farmacia da Bahia com a tese: Myopia e seu tratamento.

1898 M F C Leal Jr., médico oftalmologista brasileiro, se apresenta ao concurso de Lente Substituto na Cadeira de Clínica Oftalmologica da Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro com a tese: Processos objetivos de optometria – Seu valor clínico.

1904  F Borges Ramos, médico oftalmologista brasileiro, obtém seu doutorado no Rio de Janeiro com a tese: Da astigmia.


1905  Edilberto Campos, médico oftalmologista brasileiro, obtém seu doutorado no Rio de Janeiro com a tese: Notas sobre a correção optica permanente na myopia.




1906  E F Cruz Gonçalves, médico oftalmologista brasileiro, obtém seu doutorado no Rio de Janeiro com a tese: Da myopia, da sua etiologia, complicações e tratamento. Myopia escolar e hereditariedade na myopia.

1910  G F Rocha, médico oftalmologista brasileiro, obtém seu doutorado na Bahia com a tese: Estudo medico das lunetas e pince-nez.


1926 J A Abreu Fialho, médico oftalmologista brasileiro, Professor Catedrático de Clínica Oftalmologica na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e primeiro Presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, publica no Rio de Janeiro: Tratado de Ophthalmologia.  Na Parte IV, intitulada Anomalias da refração ou defeitos ópticos do olho, descreve seu tratamento com óculos de grau e apresenta uma armação de provas por ele mandada construir no Rio de Janeiro (figuras abaixo).









1942 Durval Prado, médico oftalmologista brasileiro,  publica Noções de óptica, refração ocular e adaptação de óculos, primeiro livro brasileiro (345 páginas) dedicado exclusivamente à refração clínica, receituário de óculos e lentes de contato, até hoje sucessivamente reeditado. 


1965 G Queiroga, médico oftalmologista brasileiro e Professor de Oftalmologia em Belo Horizonte cria e faz construir por Bausch & Lomb do Brasil  Lâmpada fenda e oftalmoscópio indireto.


1989 Aderbal de Albuquerque Alves, médico oftalmologista brasileiro, publica o livro Refração com 29 coautores, em 2011 na 5ª edição com 581 páginas.




2000 O Conselho Brasileiro de Oftalmologia publica Óptica e refração ocular. Coleção de manuais básicos. Redator-Chefe R Uras; 18 co-autores.  179 páginas.


2005 O Conselho Brasileiro de Oftalmologia publica Refratometria Ocular. Redatores-Chefes: H Bicas, A A Alves, R Uras; 48 coautores.  400 páginas.



2008 O Conselho Brasileiro de Oftalmologia publica Óptica e refração ocular. Reedição ampliada. Coleção de manuais básicos do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.


2003 Oswaldo Travassos de Medeiros, médico oftalmologista brasileiro e Professor Titular de Oftalmologia da Universidade Federal da Paraíba cria e faz construir o  Stereo test; Dispositivo para  avaliação quantitativa da estereopsia.



2004 A Duarte, médico oftalmologista brasileiro, Professor Associado de Oftalmologia na PUC do Rio de Janeiro, autor deste blog, cria e faz construir um Visor portátil para identificação de lentes progressivas.

2007 A Duarte (supracitado) publica Elementos de lentes progressivas e semiprogressivas na prática oftalmológica.



2009 M Ruiz-Alves, M Polati e S J Faria e Sousa, médicos oftalmologistas brasileiros e Professores de Oftalmologia em São Paulo,  publicam Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica.